sexta-feira, julho 21, 2017

Chester Bennington

Foi a minha filha mais velha, então teenager, quem mo apresentou, e gostei daquele som que misturava metal e hip-hop, e da raiva. Tanta raiva, que não me surpreendeu saber que fora sexualmente violentado aos sete anos. Em 2005 escrevi três linhas a propósito.
  «O som e a fúria. Há nos Linkin Park uma autenticidade que não me deixa indiferente. Aquela ira, aquele mal-estar, aqueles sintomas da sujidade endémica do nosso quotidiano.» 
Bennington enforcou-se  este quinta-feira, em casa.

quinta-feira, julho 20, 2017

Altice: um aviso muito sério ao PS

Uma entidade que dá pelo bonito nome de Altice está a infernizar a vida de milhares de trabalhadores da PT e suas famílias, como tem sido mais ou menos veiculado pela imprensa (aqui ou aqui), com muito menos destaque, claro está, do que coisas importantíssimas como a preparação da próxima época pelos 'três grandes', as opiniões de Gentil Martins sobre o homossexuais, entre outras irrelevâncias, e até por assuntos verdadeiramente importantes como o populismo racista eleitoral do badameco de Loures. 
O que se está a passar é inadmissível, e não pode ser tolerado por um governo digno desse nome, e que se respeite
No meio do número de António Costa no Parlamento (que eu espero que tenha sido um aviso para bom entendedor...), das preocupações de Passos Coelho na defesa da Altice como vítima do bulliyng por parte do primeiro-ministro (é extraordinário...), e do inefável ex-ministro da Esmola, Pedro Mota Soares, que se prepara para ser o próximo presidente da Assembleia Municipal da minha terra (pobre terra...). No meio deste carnaval, PCP e Bloco, cumprem com o seu dever (já que o PS parece não o fazer) e levantam a voz.
Como disse José Soeiro, e bem, estas altices tentam operar em Portugal como se o país fosse uma república das bananas. Depois do triste mandato do governo subserviente de Passos Coelho, humilhante para o país, há que pôr todas as altices na ordem e mostrar-lhes que Portugal não é propriamente um 'mercado' em que os abutres vêm fazer gato-sapato dos trabalhadores.
Está, portanto, na altura de fazerem um aviso muito sério ao PS.

arquivo: «The Colonny Of Slippermen» (Genesis, 1974)

terça-feira, julho 18, 2017

50 discos: 25. MEUS CAROS AMIGOS (1976) - #5 «Vai Trabalhar Vagabundo»


porventura criminoso

Pode alegar-se que as declarações do médico Gentil Martins e do candidato do PSD-CDS à Câmara de Loures são do mesmo jaez? Sim e não.
Sim, porque a ambas subjaz um preconceito, que, à partida, configura a descriminação de um, vamos lá, grupo social. E não, por um cacharolete de razões.

Martins alia a condição de facultativo reputado e homem de ciência (ou seja: não é propriamente um manda-bocas) a uma convicção religiosa arreigada, que, em minha opinião, lhe tolhe o discernimento (estou, agora, a ser um preconceituoso ateu...). Mais do que isso: é um conservador católico. Por estranho que possa parecer, um católico conservador traz em si uma mundividência (para dizer o mínimo) que não se arranca como um adesivo, ao sabor das conveniências da moda, do politicamente correcto, da caça à popularidade e aos likes  do facebook ou duma qualquer candidatura, já que ele não é candidato a nada. Além disso, que eu saiba, ainda não é crime ser-se conservador. Talvez querer tolher a opinião de Gentil Martins aí sim, possa configurar um crime; e denunciá-lo à Ordem seja uma atitude persecutória -- não para Gentil Martins, que deve ser para o lado que dorme melhor, mas para quem tenha a ousadia de expressar opiniões idênticas (isto começa a cheirar mal).

Já o Ventura é uma personagem do mundo maravilhoso da televisão; quer votos, quer aparecer, quer dar nas vistas. Não é para levar a sério (outro preconceito...). No entanto, em vez de oferecer electrodomésticos ao eleitorado, canaliza-lhe os medos directamente para a urna, em boçal populismo, porventura criminoso (a Constituição proíbe; talvez seja motivo para proibir-lhe também a candidatura).

Não há ciganos (como não há negros, brancos ou imigrantes): há indivíduos, uns cumpridores e decentes, outros indecentes e socialmente prevaricadores. Apor o ónus de marginalidade numa comunidade inteira, além de configurar um delito racista, é deplorável. Tratando-se de um político, candidato a condicionar, para o melhor ou para o pior, a vida quotidiana dos munícipes, o seu destino já deveria estar traçado pelo TC.


segunda-feira, julho 17, 2017

arquivo: «A Bia da Mouraria» (Carminho, 2009)

Fernando Assis Pacheco, António Gentil Martins e a porcaria dos novos inquisidores

No último sábado li Walt, a noveleta do Fernando Assis Pacheco publicada em 1978. Nela são recorrentes expressões utilizadas pelo narrador-alferes -- um alter ego do próprio FAP --, como paneleirices ou fufas. Estou em crer que tivesse o FAP meditado escrever algo semelhante por este ano de 2017, se autosupliciaria, se autocensuraria, pois ao usar, num registo realista, palavras do nosso léxico como paneleirice ou fufa, pensaria três ou quatro vezes se estaria na disposição de aturar o fogo de artilharia pesada dos censores do costume, mais os patetas acoplados. E, extremamente fodido, provavelmente renunciaria a.


Parece que no último sábado o Expresso publicou uma entrevista a António Gentil Martins, cujos ecos só agora me chegaram. Tenho um familiar próximo cuja vida, ainda com meses, foi salva por ele. E assim com milhares de crianças. Não é por isso que deixarei de estar distante do médico, desde logo a começar pela religião. Deus sabe o quão ateu sou. Nasce-se homossexual, não se escolhe sê-lo. (Quem disser o contrário, não passa dum aldrabão.) Estando fora da norma, não deixa de ser um fenómeno natural (e não contranatura, como defendem os seus perseguidores) e, por isso, deve ser encarada com naturalidade nas sociedades civilizadas e evoluídas.

Ora, este senhor de 87 anos terá tido uma expressão bastante infeliz, qualquer coisa como "sou completamente contra os homossexuais". Talvez tivesse querido dizer que era contra a promoção da homossexualidade, e, aí, estaria bastante melhor, do meu ponto de vista.


Recuo um sábado: estava em Évora, entro numa tabacaria para comprar o jornal e dou de caras com a capa duma revista com o nome duma parola que esganiça por essas bardatelevisões além, dois marmanjos em ósculo envolvente --  o triunfo do kitsch em todo o seu horror. O cúmulo da miséria moral é que certamente não existe, em quem empreende a folha de couve, a mínima intenção cívica e pedagógica de promoção da tolerância, mas tão-só o propósito de arrebanhar mais uns cobres. O mercenarismo de mãos dadas com o merceeirismo.

Mas isto é a minha sensibilidade, o meu gosto, a minha educação, a minha mundividência essencialmente conservadores e tradicionais a falar. Nunca me passaria pela cabeça escrever sobre o assunto, por duas razões: a homossexualidade pertence à esfera íntima de cada um; a exteriorização feérica dela, embora seja um dos avatares do mau gosto em que estamos imersos, não é suficientemente importante para que me dê ao trabalho. Há coisas muito mais sérias, graves e urgentes. Faço-o agora, só para dizer -- porque me apetece e por ser conflituoso --, que a homossexualidade, enquanto desvio do padrão, enquanto prática minoritária, está, objectivamente, fora da norma, é portanto, nesse sentido, uma anomalia -- como o ser-se albino ou, dizem, ter os olhos azuis.


É provável que Gentil Martins não esteja a ser apenas um técnico -- altamente qualificado, sublinhe-se, daqueles que são (deveriam ser) orgulho de uma comunidade --, e a sua afirmação esteja contaminada pelo vírus religioso. É uma maçada, mas é a sua opinião, não só legítima, como expressa no seio de uma sociedade liberal, incompatível, pois com atitudes de bufo, de reles denunciantes que foram apresentar queixa à Ordem dos Médicos, que por sua vez vai abrir um inquérito ou palhaçada semelhante.

Gentil Martins esteve também mal ao pessoalizar a questão das barrigas de aluguer. Podia referir-se-lhe sem trazer à colação o Cristiano Ronaldo, e da forma como o fez. Nunca me debrucei sobre o assunto, não tenho grande opinião, salvo uma rejeição instintiva, embora possa estar aberto a aceitar a prática em situações extremas, com as quais, felizmente, nunca fui confrontado. Mas há uma coisa que eu sei: uma criança não é uma coisa que se compre como quem vai à loja dos animais à procura dum bicho de estimação.


Tudo isto é controverso, e é natural que assim seja. O que não pode ser tolerado é a perseguição, fanática e pidesca, a quem exprime as suas opiniões, conservadoras, tradicionalistas e confessionais -- e com todo o direito a fazê-lo. 

sexta-feira, julho 14, 2017

Liu Xiaobo

É da natureza das ditaduras totalitárias não haver complacência para com a dissidência. Liu Xiabo, pelo pouco que dele sei -- e poderia, e deveria saber mais, pois há pelo menos um livro seu publicado entre nós: Não Tenho Inimigos, não Conheço o Ódio --, foi um preso de consciência na verdadeira acepção do termo: um pensador livre e pacifista. Uma voz ética e moral, a mais perigosa das subversões, portanto.

arquivo: «Back To Memphis» (Chuck Berry, 1967)

quinta-feira, julho 13, 2017

vamos admitir que o Lula é culpado

Convenientemente condenado a nove anos e meio de cadeia, depois da ópera-bufa que foi o afastamento de Dilma da presidência, provavelmente por não ser gatuna. Deixemos agora esse fétido festival da plutocracia brasileira em acção. Se o Lula apanha nove anos e meio, o Temer certamente será condenado a perpétua, com trabalhos forçados; e sua excelência o Cunha bandido, arrisca-se à forca. Isto para não falar no energúmeno do Collor, tão ladrão que até o sistema teve de correr com ele: após os nove anos e meio, o mínimo aceitável seria a reabertura do processo, e talvez uma condenação à fogueira, como nos velhos tempos. (Ah, não pode ser... já não há inquisição, e a igreja deixou de caçar bruxas e judeus para tocaiar meninos.)

P.S. - Não acompanho a política brasileira de perto, não tenho opinião sobre o juiz Moro. Só não gostei da chicoespertice do Carlos Carreiras, presidente da câmara da minha terra (e terra dos meus antepassados, já agora) -- ou de quem lhe fez o frete -- quando usou as Conferências do Estoril para juntar juízes de grande gabarito, como Antonio Di Pietro e Baltasar Garzón, com Carlos Alexandre e Sérgio Moro, ambos no centro de um furacão jurídico-político-mediático, com todas as interrogações que têm levantado.
Em tempo. Há, logo à partida, uma diferença qualitativa entre Lula e Dilma e os outros: aqueles foram resistentes (palavra que não diz nada aos patetas); tiveram perseguição, prisão e tortura. Têm , por isso, uma dimensão que não está ao alcance dessas porcarias engravatas que por aí mexem.

segunda-feira, julho 10, 2017

improbabilidades

Fora eu secretário de estado, ou coisa assim, e recebesse o convite da Galp para uma futebolada em que participasse a selecção portuguesa num campeonato europeu ou mundial, bilhetes pagos, viagens pagas (presumo), a primeira coisa que faria seria pedir à minha secretária para inquirir junto do gentil conselho de administração sobre o número de colaboradores (parece mal dizer 'trabalhadores' ou 'funcionários') -- quantos, portanto, colaboradores, a começar pelos gasolineiros e seus empregados, haviam sido gentilmente distinguidos com idêntica benesse. Claro que depois recusaria, agradecendo, pois é mesmo foleiro um membro do governo aproveitar-se destas migalhas de que, por interesses outros ou bajulações várias, os dinheirosos lançam mão.

Estou já a ouvir a enxúndia opinativa dos mercenários de serviço: demagogia, pá!, demagogia. A conversa fiada e bem remunerada do costume. Direi, contudo, que este episódio canhestro, nada é, aparentemente, comparado com a gatunagem (outra palavra talvez demagógica) que tem assaltado o estado em governos tantos, e anda por aí, boa parte dela, a viver acima das nossas possibilidades.

sexta-feira, julho 07, 2017

Ah, porra, que bem me soube

ver os Deep Purple ( Made in Japan é um dos míticos álbuns ao vivo da minha geração). Gillan e Glover estupendos, ambos à beira dos 72 anos; o lendário Paice, com 69, em puro domínio de baquetas e pedais. Sem Blackmore, há muitos anos incompatibilizado, e John Lord, que morreu recentemente, Steve Morse e Don Airey estiveram mais do que à altura.

arquivo: «Ai meu amor se bastasse» (Aldina Duarte, 2004)

quinta-feira, julho 06, 2017

o siresp

A sigla é miserável, o carnaval político em torno é nauseabundo. O tal Siresp -- de que só se ouvira falar aquando da negociata em que foi engendrado por um obscuro ministro do PSD, vindo do universo BPN e para lá retornado quando cessou funções -- é um dos muitos exemplos da forma como a direita dos interesses pilha o estado e os cidadãos, ao mesmo tempo que lança mão de 'jornalistas' prostiputos e mercenários das agências de comunicação para demonizar os serviços públicos e as funções do estado.
Não que eu seja um entusiasta do estado como entidade política -- mas é o que temos. E entre serviços e agências públicas dirigidos ao universo de cidadãos e vulgares ladrões engravatados, organizados em sociedades lusas de negócios, acho que prefiro os primeiros. 
Este país só será higiénico quando os grupos privados de qualquer sector exerçam a sua actividade com rédea curta e sob chicote, se preciso for (é assim que se trata os predadores).
Sim, nacionalização dessa porcaria, mas, já agora, deixar correr as averiguações, sem pressa de marcar pontinhos políticos, em que o Bloco é useiro e vezeiro, para que fique claro que essa é a única decisão decente. Porque é preciso ser-se muito vigarista para defender que serviços da administração interna possam estar nas mãos de privados (se não for vigarista, é estúpido, o que não atenua).

P.S. para os apressados: repare-se que me refiro a grupos económicos e não à actividade privada na economia, que não é apenas natural como muitíssimo desejável.

quarta-feira, julho 05, 2017

segunda-feira, julho 03, 2017

da poética só o pó, só a ética
amadeu liberto fraga

arquivo: «Aladdin Sane» (David Bowie, 1973)

sábado, julho 01, 2017

estampa CCLX - Jorge Afonso


Anunciação (c. 1510)
Nuseu Nacional de Arte Antiga, Lisboa